domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sociologia da imperfeição

Fonte: JC e-mail 3950, de 12 de fevereiro de 2010


Sociologia da imperfeição



Zygmunt Bauman rebate aqueles que creem que as ciências sociais se tornaram inúteis. Para o autor polonês, elas continuam a desafiar os clichês do senso comum


A queda do Muro de Berlim, a crise do marxismo e a decadência das utopias tiveram efeitos devastadores sobre o saber sociológico. No mundo líquido, fragmentado e disforme onde vivemos, dominado pelas formas imperfeitas, não parece mais possível pensar no estudo científico das sociedades e na definição das leis que as regem. Para muitos, a sociologia perdeu a importância. Já não pode dar conta de um mundo que se dilui e não mais se submete a leis fixas.


Não é bem o que pensa o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 84 anos. Em "Aprendendo a Pensar com a Sociologia" (trad. Alexandre Werneck, Jorge Zahar Editor, 304 págs., R$ 29,90), livro escrito com Tim May, ele defende a ideia de que a sociologia continua potente, porque continua a desafiar os clichês do senso comum.




Praticada não mais como dogma, mas como um instrumento de interrogação da vida social, ela nos faz ver que os aspectos mais familiares da vida, aqueles que nos parecem simples e banais, podem ser repensados. Com isso, facilita o fluxo e a troca de experiências e transforma nosso cotidiano. Se a filosofia nos ajuda a morrer, a sociologia nos ajuda a viver.




Em seu novo livro, Bauman reflete sobre o modo como a sociologia pode nos ajudar, objetivamente, em nossa vida pessoal. A maneira como ela estabelece limites, molda perspectivas, enfim, desenha opções e, também, impossibilidades. A seu ver, a sociologia é, antes de tudo, uma prática. "Ao ampliar o horizonte de nosso entendimento, ela é capaz de lançar luz sobre o que de outra maneira poderia passar despercebido no curso dos acontecimentos", escreve.




A sociologia, diz Bauman, parte da constatação de que as condições gerais da sociedade produzem consequências drásticas em nossa vida pessoal. Que elas atingem nosso cotidiano e influem nas coisas mais banais da existência. Isso não quer dizer que não tenhamos escolha ou que não sejamos livres; quer dizer que essas escolhas e essa liberdade estão moldadas pela força das contingências. Saber pesar a relação entre liberdade pessoal e dependência é a chave do viver bem. Ficar só com um dos aspectos - julgar-se absolutamente livre ou irremediavelmente prisioneiro - só bloqueia nosso caminho.




A vida em sociedade nos leva a deparar com pessoas "estranhas", isto é, que não se enquadram em nossos modelos e expectativas, lembra o sociólogo. Com a globalização e a profusão de "estranhos", expandiram-se os mecanismos de segregação social - seguranças, grades, crachás, bilheterias, recepções, etc. Em vez de dominar esses "estranhos" ou de fixá-los em padrões, afirma Bauman, a sociologia nos ajuda a lidar com eles. Desse modo, deixa de ser uma ciência dura, que estabelece e define, para se tornar um saber móvel, que busca uma sincronia com o mundo.


"Isso não significa dizer que a sociologia tenha o monopólio da sabedoria no que diz respeito às experiências", alerta Bauman. "Muito embora sem dúvida as enriqueça nos ajudando a compreender melhor com os outros e por meio dos outros." Ciência, antes de tudo, do outro, a sociologia não pode se congelar no culto ao mesmo e à repetição. Ela é um "pensamento que não refreia", define, e facilita o fluxo e a troca de experiência entre os diferentes.


Ainda assim, no confuso mundo de hoje, inquietos, buscamos "soluções" para nosso desassossego. Para conter as incertezas, preferimos nos fixar em uma imagem qualquer, nem que seja na simples aparência. Baseada nas semelhanças, a aparência pode nos dar a ilusão - porque usamos a mesma marca de automóvel, de perfume ou de tênis - de que pertencemos a determinado grupo. Pode nos fazer crer que sabemos onde estamos e quem somos. Quando, na verdade, continuamos perdidos.

Outros "se salvam" da inquietação adotando uma rotina ou imitando rotinas alheias. Essa proximidade, no entanto, não assegura o sentimento de "responsabilidade moral" - que surge quando um sentimento de responsabilidade brota em nós, voltado para o bem-estar e a felicidade do outro. Ao contrário: o sentimento moral, diz Bauman, frequentemente aparece entre pessoas que não têm a mesma aparência e estão fisicamente muito distantes. Nem as aparências nem as semelhanças garantem a fraternidade.




Uma comunidade não se define pela proximidade física ou pelas semelhanças aparentes, ele insiste. Uma comunidade se define por uma "unidade espiritual". Resume: "A comunidade é mais um postulado que uma realidade". Compartilhar as mesmas inquietações e dividir os mesmos ideais, e não estar lado a lado fisicamente ou se espelhar no outro, isso sim é viver em comunidade. As redes sociais se formam graças às expectativas em comum - e não por causa de alguma condição natural ou de coincidências.


O dever moral, admite Bauman, costuma entrar em colisão com o sentimento de autopreservação. "Um não pode reivindicar ser mais natural que o outro." Há, sempre, uma tensão em jogo e é preciso enfrentá-la, administrá-la - embora nunca se chegue a resolvê-la. O mesmo ocorre nas relações amorosas. Nelas, as realidades dos dois parceiros nunca são idênticas. A própria ideia de intimidade pode ser uma armadilha. As diferenças podem ser tão esmagadoras, ele adverte, que os parceiros farão exigências um ao outro que jamais poderão cumprir. Também no amor, o estar ao lado exige respeito. Amar é trocar diferenças e estilos. É mais uma troca que um encontro.




Não se deve esperar, diz Bauman ainda, que a sociologia "solucione problemas". A vida não é um "problema a resolver". Ele alerta: "Cada nova tentativa de ordenar uma parcela ou uma área específica da atividade humana cria novos problemas". Não se deve querer que a sociologia forneça soluções para os conflitos sociais. A sociologia não nos diz como resolver um problema. Ela se limita a apontar o problema com que devemos lidar. E isso já é muito.




É verdade, isso nos frustra. Na sociedade de mercado, lamenta Bauman, só queremos a perfeição. Consumimos compulsivamente, em busca de um estilo de vida perfeito. Nunca o atingimos, e isso perpetua o consumo, mas não nos aproxima de uma solução. "Somos continuamente encorajados a consumir em nossa busca do inatingível - o estilo de vida perfeito em que a satisfação reine, suprema."




Muitos ainda acreditam que sociologia pode nos apontar o melhor caminho rumo à perfeição. Não pode. Nem é para isso que ela existe, adverte. A sociologia, ao contrário, mostra que a solução inexistente é, na verdade, o que nos impede de aceitar o outro e de avançar. É a busca frenética de uma solução que nos impede de viver. Nesse sentido, toda sociologia é uma sociologia da imperfeição. "O grande serviço que a sociologia está preparada para oferecer à vida humana é a promoção do entendimento", diz. Não existe sociologia sem tolerância.



(José Castello)



"Palavras sem obras são tiro sem bala, atiram mas não ferem". (Antônio Vieira)
Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP).


Tel: (22) 2723-6907


Cel: (22) 8143-1258


Blogs:

http://www.animadoresnf1.blogspot.com
http://www.outroscampos.blogspot.com




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reunião oficializa candidatura de Lessa ao governo do Estado

Reunião oficializa candidatura de Lessa ao governo do Estado



Encontro teve a participação de ministros, senadores, deputados e outros políticos; no final do mês a escolha será reafirmada ao presidente Lula
Encontro político define Ronaldo ao Governo de Alagoas (Foto: Assessoria PDT)

Em uma reunião com mais de cinco horas de duração, iniciada na noite dessa quarta-feira (10) e concluída na madrugada desta quinta-feira, na casa do secretário executivo do Ministério do Trabalho e Emprego, André Figueiredo, em Brasília, o grupo político adversário ao PSDB do governador Teotonio Vilela Filho oficializou a candidatura de do ex-governador Ronaldo Lessa ao governo do Estado.



O “Chapão” se mostrou confiante e a escolha do nome foi ratificada por todos os políticos presentes. O senador Fernando Collor (PTB) disse entender que, no momento, Lessa representa bem o interesse do grupo, que também conta com o apoio do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Collor enfatizou a importância do fortalecimento do grupo para o enfrentamento ao PSDB em Alagoas, alertando sobre a necessidade de reversão do atual quadro político.



No final deste mês, segundo a assessoria do Partido Democrático Trabalhista(PDT), os representantes do referido grupo político estarão em Brasília com o presidente da República para a reafirmação da candidatura de Ronaldo Lessa.



“Esse encontro demonstra que todos entendem que a hora de mudar o Estado chegou. Não podemos permitir que Alagoas seja por mais tempo vítima do descaso e do atraso. Devemos nos concentrar no propósito de mudança” - disse Ronaldo Lessa.



Participaram da reunião, juntamente com o candidato Ronaldo Lessa, o senador Fernando Collor de Mello, do PTB, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, deputado federal Augusto Farias, do PTB, Eduardo Bonfim, do PCdoB, senador Renan Calheiros, do PMDB, Sandra Menezes, do PV, Benedito de Lira, do PP, o vice-prefeito do Pilar, Renato Canuto, representando o PRB, e a ex-prefeita de Feliz Deserto, Rosiane Beltrão, do PDT e o deputado federal Francisco Tenório, do PMN.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

COTAS: Estimular o debate, subverter o preconceito


O Brasil é um país campeão em desigualdades. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza, 70% são negros; entre os 53 milhões de pobres do país, 63% são negros. Estudo realizado pelos sociólogos Rosângela e Walter Praxedes, com base na Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do IBGE, mostra que entre 1992 e 1999, a taxa de analfabetismo teve redução em todos os grupos de cor, mas “entre negros e pardos ainda são quase três vezes maiores do que entre brancos” [2]. Em 1992, 10,6% dos brancos eram analfabetos, 28,7% dos pretos (nomenclatura oficial do IBGE) e 25,2% dos pardos. Em 1999, 8,3% dos brancos, 21% dos pretos e 19,6% dos pardos eram analfabetos.
Atualmente 95% de nossas crianças em idade escolar estão matriculadas no ensino fundamental. No entanto, este significativo avanço de inclusão de alunos matriculados na escola básica não vem acompanhado com a melhora da qualidade do ensino. Pelo contrário, os baixos salários, a não qualificação continuada do corpo docente, as péssimas condições de trabalho e de estudo e a falta de uma política educacional por parte do Estado brasileiro, são fatores desestimulantes ao processo de ensino/aprendizagem que o país necessita. Com isso há uma brutal evasão escolar.
Tanto que apenas 9% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem chegar à universidade, percentagem preocupante se compararmos com outros países da América Latina. Dos alunos matriculados no ensino superior apenas 2% estão estudando em uma instituição pública, o que torna o sistema ainda mais excludente.
Estudos do professor José Jorge de Carvalho, do Departamento de Antropologia da UNB, demonstra um outro lado desta exclusão perversa: 97% dos atuais universitários brasileiros são brancos, contra 2% de negros e 1% de amarelos. O desequilíbrio, num país em que 45% da população é negra, deixa claro que são necessárias medidas urgentes para inserção do negro no ensino superior.[3]
E o que a universidade brasileira tem feito para isso. Muito pouco. Ela tem silenciado diante da tragédia que se abateu sobre o ensino básico público desse país, como também não tem lutado a contento para que as universidades públicas possam expandir e absorver a grande demanda social por vagas. 
Neste sistema de exclusão, quem mais perde é o país. Imaginem quantos cientistas, quantos filósofos, quantos historiadores, quantos educadores, quantos médicos ou outros profissionais da saúde que poderiam estar contribuindo com o futuro do Brasil, mas ficaram excluídos em um rincão qualquer do interior ou nos bairros populares das médias e grandes cidades. Ou nós invertemos o foco e giramos nossas lentes para qualificar o ensino fundamental e médio, ou estaremos relegando a esse país um futuro infeliz.
A questão das cotas é uma luz que se coloca neste cenário. E penso que nós avançamos mais ainda quando deslocamos a questão das cotas do viés racial, para o debate das cotas para escola pública, porque incorpora uma dimensão social importante. Sabemos, porém, que as cotas não resolvem o problema. Pois uma universidade que recebe apenas 9% dos alunos em condições de estudar nela, sempre será uma universidade de elite, com cotas ou sem cotas.
O que precisamos é a expansão do sistema, o aumento do número de vagas, ou mais ainda: acabar com o perverso sistema de ingresso chamado vestibular. Como diz o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aloisio Teixeira: “enquanto existir o vestibular, vai haver uma barreira intransponível para o povo entrar na universidade”[4].
É evidente que acabar com o vestibular requer conceber um novo sistema de ensino, rediscutir as relações entre o ensino superior e os níveis fundamental e médio, criando critérios para que os egressos desse níveis possam entrar na universidade independente da sua condição social. Daí que o debate sobre as cotas, seja ela racial ou social, deve ser encarada como uma medida paliativa e temporária, pois a verdadeira inclusão educacional somente virá com a adoção de políticas públicas voltadas para salvar o ensino fundamental e médio e ampla expansão de vagas públicas e gratuitas no ensino superior para os nossos jovens.
As políticas de ação afirmativa vêm sendo implementadas, com sucesso em diversos países. A Índia, após tornar-se independente em 1947, adotou um sistema baseado em cotas, o qual destinou, aos chamados “intocáveis”, cerca de 22,5% das vagas na administração e no ensino públicos. Essa medida tinha como objetivo a correção das desigualdades advindas do sistema de castas e da subordinação da chamada “origem divina”. Na Malásia a etnia bimiputra recebeu tratamento etnicamente diferenciado, com o objetivo de que fosse promovido seu desenvolvimento econômico. Entre 1982 e 1996, aproximadamente 25 países adotaram, de acordo com dados fornecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), intervenções políticas visando a eliminar as discriminações sexual e racial ou implementado mecanismos de discriminação positiva nas relações de trabalho. Nos anos noventa, países como Ilhas Fiji, Malásia, Canadá, Índia e Austrália adotaram políticas de ação afirmativa no combate às desigualdades culturais. Na Europa, é possível encontrá-las, aplicadas às desigualdades de gênero[5].
No Brasil, o debate sobre cotas também não é novo. Haja vista a determinação de que 30% das vagas para eleições proporcionais sejam ocupadas por mulheres; que o serviço público deva empregar pelo menos 5% de funcionários portadores de deficiências; ou que sejam reservados lugares especiais para idosos em locais e transportes públicos.
Sabemos que o sistema de cotas para negros nas universidades gera polêmica e divide opiniões. Há vários argumentos contra e a favor. Tanta incerteza, no entanto, tem um ponto positivo: a reserva de vagas gera um debate importante sobre o racismo no Brasil, um país onde o preconceito existe, ainda que de forma velada.
Por isso a necessidade do debate. Não precisamos ter medo dessa discussão. Dispamo-nos de nossos preconceitos e aportemos a esse debate a nossa contribuição.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um balanço preliminar do Governo Lula: a grande mudança medida pelos números

Um balanço preliminar do Governo Lula: a grande mudança medida pelos números






Qualquer avaliação isenta de um governo específico, ainda que tentativa, deve partir de dados objetivos e concretos sobre o desempenho administrativo desse governo num determinado período de tempo, normalmente o seu mandato constitucional. O governo do presidente Lula, por exemplo, deveria apenas ser avaliado a partir da herança recebida, em 1º de janeiro de 2003, de seu antecessor e com base no legado que pretende deixar, em 31 de dezembro de 2006, a seu sucessor, ainda que este possa ser ele mesmo, eventualmente reeleito, tal como facultado pela Constituição. A prudência recomendaria, portanto, que uma avaliação honesta e completa de seu desempenho no cargo seja feita apenas dentro de aproximadamente doze meses, em fevereiro ou março de 2007, quando todos os dados de 2006 estiverem disponíveis.



Considerando-se, porém, que o governo atual iniciou seu mandato prometendo grandes mudanças no cenário brasileiro – conforme o discurso inaugural do presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003 – e que este ano promete ser ocupado, mais cedo do que o previsto, pela campanha presidencial para o mandato de 2007-2010 – além do fato de que, não só o período eleitoral, mas todo o ano de 2006 pode ser marcado por comparações entre esta administração e a anterior –, talvez seja justificado um balanço preliminar deste governo. O intuito é tanto mais legítimo quando se observa que diversas peças de propaganda do atual governo têm como objetivo, justamente, a comparação não apenas com o mandato imediatamente anterior, mas com os oito anos da gestão FHC. A finalidade é geralmente triunfalista, pretendendo demonstrar como este governo realizou muito mais do que o precedente, nos mais diversos campos da economia e das políticas setoriais, em especial nas de cunho social.



Tem em vista esses dados da realidade presente, pode ser apropriado tentar uma avaliação preliminar dos resultados alcançados pelo atual governo, mesmo de modo não explicitamente comparatista. Tentarei fazê-lo de modo objetivo, alinhando os pontos positivos e os eventuais pontos negativos nos diversos aspectos da vida nacional e internacional, ou melhor, nos cenários doméstico e externo que interagem com a economia e os demais setores da conjuntura brasileira. Para fazê-lo, nada melhor do que começar com alguns números objetivos, como estes que são abaixo apresentados.


Indicadores selecionados da economia brasileira, 2002-2007


2002

2003

2004

2005

2006 1

2007 2



Dados básicos da economia

PIB nominal (US$ bilhões)

460

507

603

794

925

932



Crescimento real do PIB %

1,9

0,5

4,9

2,3

3,0

3,0



Cresc. PIB agropecuário %

5,5

4,5

5,3

0,8

4,5

3,0



Cresc. PIB industrial %

2,6

0,1

6,2

2,5

4,5

3,0



Cresc. PIB serviços %

1,6

0,6

3,3

2,0

2,2

2,7



Inflação IPCA-IBGE

12,5

9,3

7,6

5,7

4,2

4,2



Inflação IGP-DI FGV

26,4

7,7

12,1

1,5

4,8

4,8



Juros básicos em dezembro

25,0

16,5

17,8

18,0

14,5

13,0



Juros básicos – média anual

19,2

23,3

16,4

19,1

15,4

13,7



Desemprego (% da PEA)

11,7

12,3

11,5

9,8

9,3

8,9



Preço cesta básica (%) 3

31,7

3,0

1,3

-2,4

--

--



Receitas de impostos (bi. R$)

243,0

273,4

322,6

364,1

--

--



Despesas governo (bi. R$)

232,2

257,1

302,7

351,9

--

--



Déficit Previdência (%PIB)

1,26

1,70

1,81

1,93

--

--



Dívida pública (bilhões R$)

623,2

731,4

810,3

979,7

--

--



Dívida pública 4 (% PIB)

55,5

57,2

51,7

51,4

50,0

48,6



Juros sobre dívida púb. (bi R$)

148,9

165,4

137,0

157,1

--

--



Pagamento Juros (% PIB)

8,47

9,33

7,26

8,13

--

--



Superávit primário (% PIB)

3,89

4,25

4,59

4,84

4,40

4,40



Déficit nominal (% PIB)

4,58

5,08

2,67

3,29

--

--



Investimentos públicos (% PIB)

0,91

0,34

0,51

0,53

--

--



Setor externo



Taxa de câmbio dezembro

3,53

2,89

2,65

2,20

2,30

2,50



Taxa de câmbio média no ano

2,93

3,07

2,93

2,43

2,25

2,40



Exportações bens (US$ bilhões)

60,4

73,1

96,5

118,3

124

126,5



Importações bens (US$ bilhões)

47,2

48,3

62,8

73,5

85

95,5



Saldo balança comercial

13,2

24,8

33,7

44,7

39

31



Transações correntes (% PIB)

-1,7

0.8

1,9

1,8

1,6

0,2



Investim. Direto Estr. (US$ bi)

16,6

10,1

18,2

15,2

15,5

15,9



Dívida externa (% do PIB)

45,9

42,4

33,3

22,8

17,9

16,1



Dív. Externa/Export. bens (%)

349

294,1

208,7

153,7

133,8

118,7



Reservas int. brutas (US$ bilh.)

37,8

49,3

52,9

68,7

81,7

87,1



Reservas int. líquidas (US$ bilh)

16,3

20,5

27,5

54,9

74,4

86,4



Fontes: IBGE, Banco Central, IPEA; estimativas e previsões de consultorias diversas.



Notas: 1 = alguns dados de 2006 ainda são estimativas; 2 = previsões ; 3 = variação do preço da cesta básica em relação ao ano anterior; 4 = dívida líquida do setor público;.









Bem sei que para efeitos de comparação com o governo anterior, ainda que este não seja meu objetivo imediato, o ano de 2002 não é a melhor opção para tal, uma vez que os principais indicadores macroeconômicos e setoriais, sobretudo os da frente externa, vieram contaminados pela natural exacerbação do período eleitoral, tanto mais importante, em 2002, que a mensagem política veiculada pelo PT era a de uma “ruptura” com todos os postulados que tinham guiado o governo anterior, supostamente “neoliberal” em economia e, como tal, complacente com o “capital financeiro internacional”. Não surpreendeu, assim, que os principais indicadores externos tenham conhecido uma deterioração sensível ao longo daquele ano, sobretudo aqueles relativos ao câmbio e ao chamado “risco Brasil” – diferencial de juros em relação às melhores taxas dos mercados externos –, que ascendeu a níveis jamais vistos em períodos anteriores (próximos de 24 pontos, em outubro de 2002, para menos de 10% desse valor atualmente).



O que em todo caso se depreende do quadro de dados oficiais (e algumas estimativas) são três realidades nítidas: (a) a primeira é que a economia brasileira vem conhecendo taxas de crescimento bastante modestas nos últimos anos, inferiores às médias históricas conhecidas em fases precedentes; (b) a segunda, mais preocupante, é uma contínua deterioração da situação fiscal, ainda que o superávit primário tenha podido conter os níveis dos déficits nominais; (c) a terceira, bem mais feliz, é que a situação das contas externas conheceu uma melhoria sensível ao longo dos últimos três anos, a ponto de se poder dizer que o Brasil rompeu, finalmente, com a sua famosa “vulnerabilidade externa”.



Nenhuma dessas situações pode ser imputada exclusivamente ao governo atual, ainda que ele tenha atuado decisivamente no terceiro fator – ainda assim beneficiado por políticas que tinham sido implementadas alguns anos antes – e tenha sido excessivamente leniente com o aumento contínuo dos gastos públicos, responsável pela deterioração da situação fiscal. Quanto ao baixo crescimento da economia, ele reproduz o padrão dos últimos 10 anos (2,5% ao ano), quando o Brasil enfrentou vários desequilíbrios externos, viu o recrudescimento inflacionário no plano interno e não vem sabendo enfrentar, desde a aprovação da Constituição de 1988, a pressão fiscal que redunda do aumento progressivo dos gastos públicos, seguida da expansão da carga tributária, que reduz, justamente, o volume de investimentos necessários à sustentação de uma taxa mais elevada de crescimento. Em todo caso, os resultados obtidos nos três primeiros anos do Governo Lula reproduzem exatamente a taxa média de crescimento registrado no primeiro mandato de quatro anos (1995-1998) de FHC, ou seja, uma taxa média de 2,6% ao ano.



No plano da política econômica, justamente, o governo Lula conseguiu manter um padrão de comportamento cauteloso, que seguiu, basicamente, o estilo e o conteúdo herdados do governo anterior, feitos de busca de estabilidade no plano monetário – com concessão de autonomia de fato à autoridade monetária –, manutenção da responsabilidade fiscal, preservação das políticas de metas de inflação e de superávit primário, adesão plena ao regime de flutuação cambial e um bom diálogo com entidades financeiras internacionais, multilaterais ou privadas. Esse aspecto merece ser enfatizado, ainda que seja o que mais críticas despertou na base de apoio do partido no governo por, justamente, discrepar das propostas de política econômica por ela preconizadas.



Os bons resultados obtidos na frente externa e na condução da política macroeconômica não permitem, contudo, ignorar o problema das contas públicas, assim como as dificuldades ainda manifestas para o crescimento da economia como um todo, tendo em vista o péssimo ambiente de negócios prevalecente no Brasil. A despeito do caráter errático de alguns indicadores compilados, um dado é eloqüente na tabela apresentada acima: o contínuo aumento do déficit da previdência. Em 1995, as despesas totais da previdência no Brasil representavam 5% do PIB; em 2005, o governo deve gastar 7,5% do PIB com os benefícios do INSS, com previsão de maiores aumentos nos anos à frente. A reforma efetuada em 2003, e implementada canhestramente depois de manobras congressuais, apenas reduziu o ritmo do aumento do déficit previdenciário, o que é extremamente preocupante do ponto de vista das gerações futuras. O governo, aparentemente, desistiu de aprofundar a reforma do sistema, o que se revela absolutamente necessário para evitar o colapso de seu funcionamento ou simplesmente para impedir que o aumento de gastos incida sobre os níveis já elevados de déficits setoriais com o conseqüente aumento da dívida pública.



No plano mais geral das contas públicas, as despesas do governo vêm crescendo de modo contínuo: entre 1999 e 2005, desconsiderando-se o pagamento de juros, as despesas do governo cresceram a uma média de 18,3% ao ano, saltando de 15,85% do PIB para mais de 18% em 2005. Nos dez anos que vão de 1995 a 2005, as despesas do governo federal cresceram 77% acima da inflação: em média, houve uma expansão real anual de 5,8%, bem maior do que o crescimento do PIB, que foi de 2,5%. Nos três anos do governo Lula, a média de aumento de gastos públicos correntes foi de 6,23% acima da inflação. A despeito de tentativas generosas de aumento real do salário mínimo, não se pode esquecer que esse tipo de medida, ademais de possuir um viés regressivo – ao beneficiar antes os mais velhos do que os jovens – também provoca novas despesas, gerando, portanto, aumento do déficit público.



Ao mesmo tempo em que as despesas correntes cresceram, os investimentos produtivos diminuíram significativamente, sobretudo aqueles a cargo do setor público (basicamente em infra-estrutura, saúde e educação). Os investimentos públicos nos dez anos que vão de 1995 a 2005 caíram de 0,6 para 0,5% do PIB, depois de ter alcançado, 0,9, 1,2 e 0,8% do PIB em 2000-2002. Existem indicadores de que eles podem estar diminuindo ainda mais na presente fase. Esse dado é extremamente preocupante, na medida em que a falta de investimentos públicos nessas áreas impacta negativamente as possibilidades de crescimento nos anos à frente.



Como poderíamos resumir, agora do ponto de vista qualitativo, o desempenho do governo Lula, enfatizando pontos positivos e negativos? Tentarei fazê-lo com a ajuda do quadro abaixo.







Balanço de um Governo: avaliação qualitativa de três anos de administração Lula



Pontos positivos

Pontos Negativos



Estabilidade macroeconômica;

Crescimento lento e instável;



Moderado aumento do custo de vida, com tendências declinantes graças ao regime de metas de inflação;

Setores ainda oligopolizados e tarifas públicas pressionam o preços e aumentam as despesas dos consumidores;



Contas fiscais ajustadas ou quase; tentativa (frustrada) da área econômica de fixar um superávit primário mais elevado;

Diferentes focos de pressão por novos gastos, sobretudo previdenciários e salários do funcionalismo;



Dinamismo exportador, saldos comerciais crescentes, a despeito da não concretização de acordos comerciais relevantes;

Câmbio excessivamente valorizado, baixo comprometimento com novos acordos de liberalização;



Retomada de investimentos produtivos em algumas áreas da economia;

Baixa poupança e manutenção de níveis irrisórios de investimento público;



Atração de investimento estrangeiro em alguns setores selecionados;

Obstáculos significativos à instalação de novos negócios; ambiente burocratizado;



Tentativas iniciais de reforma sindical e trabalhista, não levadas adiante em virtude da própria base sindical do governo;

Diminuição moderada do desemprego, aumento da informalidade e da precariedade laboral;



Manutenção das regras do jogo no ambiente empresarial e financeiro;

Temores remanescentes inviabilizaram maiores níveis de investimento privado;



Modernização produtiva de algumas grandes empresas e internacionalização de grandes e médias empresas brasileiras;

Burocracia e regulacionismo excessivos para a criação e o fechamento de empresas; ambiente negativo para os negócios;



Aumento do gasto social, sobretudo no Bolsa Família, a partir da unificação dos programas anteriores;

Esquemas assistencialistas não incidem sobre a capacitação de mão-de-obra e não aferem condicionalidades (saúde e escola);



Esforço sincero para elevação do salário mínimo, mesmo ao custo da previdência;

Concentração de renda e riqueza mantidas inalteradas; falta de foco na infância;



Tentativa de reforma administrativa, embora centrada no Estado;

Mau funcionamento do Estado, criação de estatais, ineficiências administrativas;



Políticas de inclusão de grupos sociais subalternos ou minoritários;

Tentativas de enquadramento de atividades culturais e jornalísticas;



Ativismo na frente externa, com política centrada no relacionamento com o Sul e na integração regional sul-americana;

Falta de meios efetivos à disposição das políticas pretendidas; retórica ainda supera as realizações efetivas.



Fonte: Elaboração do autor.









Excluo totalmente desta avaliação qualitativa os inúmeros problemas surgidos em 2005 nas frentes parlamentar e partidária, em torno do chamado problema do “mensalão” (obviamente um quadro bem mais amplo do que a prosaica atração de apoio congressual com base em repasse de “recursos não contabilizados” pelo principal partido nacional). Uma avaliação poderia apontar um julgamento amplamente negativo, mas qualquer análise nessa área pode ser considerada como subjetiva ou precipitada, uma vez que não se encontram, ainda, concluídos vários processos de investigação e de responsabilização, em curso nos planos do Judiciário e do Congresso, que podem resultar em penalização criminal e política dos envolvidos. Caberia apontar, em todo caso, elementos amplamente reportados na imprensa, relativos ao loteamento de cargos públicos segundo critérios mais políticos e partidários do que de mérito e de capacitação funcional, do que resultou a intrusão partidária na administração pública, à desestruturação do quadro partidário no Congresso – com intensa troca de titulares de mandatos parlamentares entre algumas legendas, aparentemente por estímulo do partido dominante –, assim como a percepção de um aumento em práticas corruptas registradas concretamente no Congresso e em alguns setores da administração.



Obviamente, a corrupção na administração pública e a necessidade de manobras pouco virtuosas para se assegurar uma base de apoio parlamentar não nasceram – nem vão terminar – neste governo, mas pode-se em especial atentar para o fato de que foi neste governo que o fator político envolvido nas relações “partido-Estado” ganhou novos contornos, que não tinham sido, ainda, conhecidos na esfera da administração pública federal. Uma avaliação ponderada a este respeito terá de ser conduzida mais adiante, quando ficarem estabelecidas responsabilidades por práticas nefastas do ponto de vista da boa administração pública. Evidencia-se, em todo caso, a necessidade de profunda reforma política, tendo em vista o quadro amplamente disseminado de práticas “heterodoxas” em quase todos os partidos e no Congresso de modo geral.



Mais preocupante, do ponto de vista das possibilidades de retomada do crescimento e da distribuição de seus frutos entre a população brasileira, parece ser o estancamento do aumento da produtividade. Depois de crescer continuamente entre 1999 e 2002, à razão de 4,4% ao ano, a produtividade da economia brasileira parou de crescer, tendo sido, entre 2003 e 2005, de apenas 0,4% ao ano. Dados anteriores mostram que a produtividade na economia brasileira cresceu de forma acelerada no início da década de 90, sobretudo em virtude da abertura econômica, teve outro bom desempenho no período pós-99, para estancar a partir de 2003. No total, entre 1992 e 2005, o crescimento médio da produtividade foi de 2,7% ao ano.



Como sabem os especialistas, a produtividade total de fatores é o principal elemento de crescimento e de transformação estrutural numa economia. No caso do Brasil, ela cresceu de forma acelerada no início dos 90, que coincidiu com amplas reformas econômicas, mas vem declinando desde então. Entre outros elementos responsáveis, podem ser apontados o alto custo do investimento no Brasil, a ausência de reformas microeconômicas e o ambiente regulatório menos favorável, para não dizer francamente negativo, à condução dos negócios.



Por fim, não seria preciso retomar aqui a situação amplamente conhecida do aumento da carga fiscal no país, que constitui hoje um dos principais entraves a um processo sustentado de retomada do crescimento. Como se sabe, o governo retira, atualmente, 37% de tudo o que se produz no país e, claramente, não retribui com serviços de qualidade. Essa carga fiscal deveria, portanto, ser acrescida de todos os encargos suportados em bases privadas pelos consumidores e contribuintes para se chegar aos números reais da “exação fiscal”, provavelmente mais próximos de 50% dos rendimentos correntes. O aumento da tributação tem sido contínuo no Brasil, desde a aprovação da atual Constituição, com inúmeros reflexos negativos para o desempenho do setor privado da economia, o único capaz de prover o Estado de recursos para fins de políticas setoriais e distributivas. O que ocorre, obviamente, é que a própria máquina do Estado vem consumindo recursos em quantidade crescente, penalizando de forma conseqüente – e altamente negativa – os investimentos produtivos. Aparentemente, o governo Lula não se dispôs ainda a enfrentar esse problema, talvez porque filosoficamente acredite nas virtudes “distributivas” do Estado.



Este aspecto constitui, provavelmente, o mais grave problema da atualidade brasileira, que teria de ser equacionado se a sociedade pretende voltar a conhecer taxas mais expressivas de crescimento com distribuição de seus frutos. Junto com uma avaliação mais minuciosa dos efeitos reais das políticas sociais do atual governo, ele constitui o elemento central de qualquer avaliação de desempenho que se pretenda fazer do governo Lula a partir de janeiro de 2007. Ao concluir, portanto, este primeiro levantamento e avaliação preliminar do governo Lula, pretendo marcar rendez-vous com alguns leitores dentro de aproximadamente um ano, para o levantamento completo da presente administração.

Evolução das políticas sociais e redução da pobreza

Evolução das políticas sociais e redução da pobreza



Publicação do Ipea relata evolução das políticas sociais e redução da pobreza

 

Durante os primeiros anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quase 10 milhões de brasileiros ultrapassaram a linha de pobreza e mais de sete milhões deixaram a situação de indigência. Em 2003, 64 milhões de pessoas (37,2% da população) tinham renda inferior a meio salário mínimo. Este número caiu para 53,9 milhões, em 2005, o que passou a representar 30,1%. O contingente dos que vivem na extrema pobreza (abaixo de 25% do salário mínimo) reduziu, no mesmo período, de 27,5 milhões para 20,3 milhões. Com isso, o índice diminuiu de 16,1% para 11,3%.




“O crescimento das políticas de transferência de renda e a elevação do salário mínimo, com impacto também nos valores dos benefícios previdenciários e assistenciais, contribuíram decisivamente para a queda desses índices.” Os dados e a explicação para a redução da pobreza no Brasil estão na edição especial do Boletim Políticas Sociais, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cujo conteúdo será debatido em seminário que a instituição promove neste mês de maio. A publicação analisa o período de 1995 a 2005, e um dos seus capítulos é a Assistência Social e Segurança Alimentar.


Os autores dedicaram significativo espaço da publicação para mostrar a evolução das políticas sociais no Brasil, abordando legislações, descontinuidade de ações e consolidação dos programas. “O campo da Assistência Social era marcado pelo paralelismo de ações e pela dispersão de responsabilidade entre diversas instâncias da máquina pública. Nas décadas de 90 e 2000, houve sucessivos esforços institucionais no sentido de integrar as ações, o que foi de fato efetivado em 2004, com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)”, relata o estudo.


De acordo com o texto, até a década de 90, a Assistência Social desenvolveu-se com o predomínio do setor privado, responsável pelos serviços, contando com a participação do setor público, no financiamento via subsídios e transferências de recursos. “No Brasil, a Assistência Social nasce identificada à filantropia e à benemerência, entendidas como todo tipo de ajuda em direção aos pobres”, descrevem os autores.


COMBATE À FOME


O texto ressalta a importância da aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), em 1993, mas observa, no período seguinte, indefinições em relação à implementação do novo papel do Estado na Assistência Social. Somente em 2003, segundo o estudo, o debate sobre a responsabilidade do setor público é retomado, tendo em seu ponto mais relevante a aprovação, em 2004, da nova Política Nacional de Assistência Social, que busca ampliar as garantias do acesso da população às ações. “Nesse momento, o escopo da assistência passa a não mais ser compreendido em função de públicos, mas em termos de segurança que essa política de proteção social deve garantir acolhida, renda, convivência, desenvolvimento de autonomia e sobrevivência a riscos.”

Segundo o relatório, em 2003, a mudança na estratégia de enfrentamento à pobreza e à miséria e a priorização do combate à fome implicaram, além da continuidade dos programas anteriormente desenvolvidos, a criação de novo programas sociais e a retomada da segurança alimentar, bem como o reconhecimento do direito à alimentação a toda a população, por meio da estratégia Fome Zero. A partir de 2004, de acordo com a publicação, as mudanças se aprofundaram, principalmente por conta da criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que visa ao avanço da descentralização e à integração de diversas esferas do governo em torno de um projeto de política pública.


Mas o estudo revela a fragilidade da gestão municipal: “Em que pese o esforço em prol da adesão dos municípios à nova sistemática, a incipiente organização desta política em grande parte dos municípios, a forte presença da filantropia e a ainda expressiva influência da política-partidária nos espaços locais apontam para séries dificuldades no processo de construção do SUAS.”


O relatório enfatiza que, de qualquer forma, as iniciativas implicaram movimento significativo de alteração da política de Assistência Social. “Ela deixou de se entendida como residual e localizada, ampliando-se, entendida como direito de toda a população, visando a garantir serviços e benefícios em todo o território nacional”.


DESAFIOS

Segurança Alimentar e Transferência de Renda também passaram por processo similar ao da Assistência nos debates públicos e definições políticas. “Ambas emergem no contexto das políticas públicas brasileiras apenas durante a década de 90, mas somente nos anos 2000 se consolidam”, conta a publicação. Na visão dos autores, a sociedade brasileira recusou, durante muitas décadas, o reconhecimento do direito da população pobre à garantia de um padrão mínimo de bem-estar, até mesmo em relação à alimentação.


O trabalho também lembra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), em 1996, e sua reativação em 2003, quando o combate à fome ganhou prioridade na orientação do Governo Federal. O relatório mostra ainda que o Programa Bolsa Família, criado em 2003, é um progressivo reconhecimento de que o País necessita efetivar uma política de renda mínima”. Na avaliação dos autores, a unificação de programas de transferência de renda realizada pelo Bolsa Família representa um avanço no sentido da organização de uma rede de proteção social que cubra os grupos mais pobres.


Outros pontos destacados no estudo são o apoio à produção da agricultura familiar e a implantação dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS). Também ressaltam a realização das conferências de Assistência Social como importante espaço de democratização e participação popular. Pelo estudo, os principais desafios apontados para o setor são a consolidação institucional das políticas, a centralidade na família, o financiamento e o cofinanciamento, a universalização da proteção social e a questão do trabalho em relação à proteção social. “São temas que se impõem para a agenda dos próximos anos e de cujo enfretamento dependerá, em grande medida, a evolução da proteção social brasileira”, finaliza.


O QUE MAIS O ESTUDO DO IPEA MOSTRA


Mais jovens estudando: Em 1995, nas famílias com rendimento familiar de até um quarto do salário mínimo, 54,7% dos jovens estavam apenas estudando. Em 2005, este número passou para 75,1%.


Redução da desnutrição infantil: O índice de crianças entre um e dois anos de idade desnutridas reduziu de 19,8%, em 1999, para 7,7%, em 2004. Na faixa etária até um ano, a taxa caiu de 10,1% para 3,6% no mesmo período. De acordo com a publicação, “as melhorias observadas nos indicadores sociais apresentados decorrem de um conjunto variado de processos, podendo ser citada a ampliação de acesso aos serviços de educação, saúde e saneamento e também às políticas de salário mínimo, de transferência de renda e de acesso aos alimentos




Políticas Públicas e redução da pobreza

Políticas Públicas e redução da pobreza




O direito à seguridade social inscreve-se nos direitos sociais de cidadania e, como tal, estaria ainda em processo de construção no Brasil. A passagem do estado liberal para o estado social resultou no esgarçamento dos valores liberais (individualismo, igualdade, liberdade). Para tanto precisaríamos de políticas publicas que reduza o estado de pobreza do nosso país. O objetivo deste texto é discutir o tema: Políticas sociais assistencialistas, para a redução da pobreza, com foco nos distintos programas assistencialista que possuem o governo para os dias de hoje. Para mim existe uma disparidade entre esses programas, ou seja, fazer uma distinção deste programas, como finalístico (transferência de renda) e o programa não-finalístico (apoio a iniciativas de geração de emprego e renda, que para mim este sim seria o uma conquista, do governo atual e para o futuro.



O direito à seguridade social inscreve-se nos direitos sociais de cidadania e, como tal, está ainda em processo de construção no Brasil. A passagem do Estado liberal para o Estado Social resultou no esgarçamento dos valores liberais (individualismo, igualdade, liberdade, dentre outros). Para alguns economistas esse feito seria formulado em 1601, 1832 e 1834 bem como o Statute of Artificiers de 1563, que na época apresentavam, ambigüidade de propósitos, ou seja, alivia a pobreza evitando a condição de miserável (aquele que recebia proteção sob a condição de perda direitos de cidadania) e, ao mesmo tempo, preservavam uma classe laboriosa (a dos pobres, necessária à criação de uma sociedade de mercado). Devido a estratégias e políticas de caráter integrador, no final do século XXVII, esse país enfrentou enfrentaria a revolta dos operários com a destruição das máquinas e mais tarde, em 1834, a sua força organizativa que se fazia necessária com a fundação do “Sindicato Geral Nacional Consolidado – Trades Union” (MARTINELLI, 1989:37).






Quanto a Desigualdade social no Brasil, reconhecemos que uma questão-chave no ambiente socioeconômico do país se situa no lado distributivo – base geradora de iniqüidade social. A desigualdade social no Brasil e algo fora do comum, apesar de fortes raízes, que necessitam ser sempre consideradas na elaboração de expectativas quanto a resultados imediatos de programas sociais. O alcance de resultados importantes em termos de redução da pobreza, em ritmo mais acelerado que o que se tem verificado no Brasil, depende diretamente de ações para a neutralização ou eliminação de fatores geradores de desigualdades na esfera econômica da produção e de fatores geradores de sancionadores de desigualdades no mercado de trabalho, no sistema educacional e na execução de política sociais. Para tanto seria importante que o governo ter uma nova reforma social e um mapeamento da desigualdade do Brasil, apesar disso se claramente visto em todas as capitais desse continente. O perfil das desigualdades no Brasil toma nova dimensão qualitativa a partir dos anos 80., quando se esgota o ciclo de crescimento iniciativo nos anos 30. Duas constatações que se tornariam evidentes a partir da longa crise de estagnação e inflação iniciada na década de 1980. A primeira é que o crescimento, nos termos em que se processava, não erradicava a pobreza e ainda gerava ou aprofundava outros desequilíbrios. A segunda é que a ausência de crescimento e um relativamente elevado nível de desemprego e de precarização da relações de trabalhos ,combinados com altas taxas de inflação, davam à pobreza e à desigualdade uma dimensão ainda maior. Diante do cenário global contemporâneo, evidenciamos a pobreza e a desigualdade fazendo-se presente no nosso cotidiano sob a ótica de um pensamento hegemônico e socialmente dominante oriundo das ajudas assistencialistas praticadas por empresas, entidades filantrópicas e pessoas voluntárias. Estes, a partir do emprego da filantropia, buscam soluções, a nosso ver, ilusórias, para a erradicação destes entraves na promoção do desenvolvimento social. Nesta perspectiva, como romper com uma visão assistencialista, objetivando vencer a pobreza e a desigualdade? Primeiramente, podemos declarar que políticas públicas internas eficientes e eficazes, capazes de produzir efeitos maximizadores no bem-estar da população e, conseqüentemente, minimizar os problemas sociais, é de suma importância para favorecer a integração do indivíduo ao Estado e ao gozo dos direitos que lhe permitam participar da vida pública. Em outras palavras, desenvolver a criticidade do indivíduo perante a sua realidade, reivindicando seus direitos e deveres enquanto um agente transformador do meio do qual pertence. Neste sentido, todos os cidadãos estariam aptos a lutar pela sua melhoria social, tornando desnecessárias as ajudas assistencialistas. Para mim a inclusão só estará clara quando novas políticas públicas forem reformuladas, e tenham seu foco realmente na erradicação da pobreza, só assim vamos manter uma paridade entre desenvolvimento e cidadania, fazendo assim com que melhorem a educação, Saúde, e o principal emprego, acho desnecessária que o governo tenha vários programas de ação social, onde os mesmo não tenham acompanhamento, e mesmo assim quando existe acompanhamento se usar uma maquiagem e pessoas que não precisam se assistida pelo governo e as que precisam ficam fora do programa.





Para o governo hoje existe programas que servem de facilitadores para e erradicação da pobreza no Brasil. No atual contexto brasileiro, dado o lugar que ocupa o mercado de trabalho como o núcleo onde se materializam desigualdades sociais, ganha importância na análise de políticas de redução da pobreza os programas sociais com foco na geração de emprego e renda – base para a inclusão social – e na qualificação da força de trabalho. Para o governo qual seria a melhor forma de inclusão social? Além disso, outra medida favorável na diminuição da pobreza e desigualdade faz-se pela implementação de políticas educacionais de qualidade. A partir dos conhecimentos transmitidos pelo professor, somos levados a questionar uma determinada realidade através da identificação dos problemas da esfera social, na tentativa de buscar soluções possíveis. Assim, seríamos todos capazes de preconizar o surgimento de uma nova sociedade sem o abismo econômico entre os sujeitos, o que propiciaria a melhora da qualidade de vida, isenta de caridades que hoje suprem a sobrevivência de milhões de pessoas ao redor do globo. É fácil para o governo da assistência embora o mesmo tenha sim que da assistência que para mim seria diferente: a) primeira mente o governo deveria fornece mão de obra qualificada,; b) formação de qualidade, escolas com boas infra-estruturas, saúde de qualidade; c) e implanta forma de diminuição de impostos para novas indústria, assim facilitaria a entra de pessoal para a formalidade, e ainda digo mas se o governo investir esses valores em indústrias, para população facilitaria a vida de muito e o próprio governo teria lucratividade para sim próprio, infelizmente o melhor que o governo pode dá, e uma bolsa família, para que as mesmo se mantém de forma aventureira, passando 30 dias com apenas 100, ou 50,00 reais que vem do então bolsa família, fazendo assim o aumento do crescimento populacional do Brasil e havendo maiores índices de criminalidades. O problema de assistencialismo no Brasil e algo assustado, o Brasil joga fora hoje ao bizarro. A dimensão e o caráter que hoje assumem as políticas públicas de geração de emprego no Brasil são certamente inéditos. A baixo iremos vê alguns índice do Bolsa família no estado de alagoas






Desta forma o governo vem investido montanhas de milhões de reais em nosso estado, havendo assim um ritmo acelerado de desemprego, o que leva o estado a piores índices de desemprego. Apesar de grandes investimentos a qual o estado vem passando isso poder melhora esse quadro de miséria a qual passa nosso estado. Segundo o Jornal A “GAZETA DE ALAGOAS: Alagoas tem maior taxa de emprego no Brasil Estado teve a maior taxa de crescimento de empregos formais de todo o País no último mês de outubro.taxa nacional foi de 0,20%, enquanto a do Estado ficou com um crescimento de 2,50%. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego e foram divulgados nesta quinta-feira (20). Em todo o País, detalhou o ministro Carlos Lupi durante a apresentação dos números, houve a geração de 61.401 novos empregos, contra uma média de mais de 200 mil registrados nos meses anteriores, o que representa uma desaceleração de 0,20%.


Considerando que essa desaceleração de outubro de 2008 foi mais expressiva que as ocorridas nos meses de outubro dos últimos anos, esse resultado pode significar uma reavaliação do empresariado sobre os efeitos da recente crise financeira internacional.


"O resultado continua sendo positivo e ao fim de 2008 teremos o melhor resultado da história da geração de empregos no Brasil, com mais de 2 milhões de vagas criadas. Vale lembrar que entre janeiro e outubro deste ano os Estados Unidos perderam 1,2 milhão de postos de trabalho", destacou o ministro Carlos Lupi.


Em Alagoas, de acordo com o Caged, o aumento na criação de empregos no mês de outubro ocorreu por motivos sazonais relacionados às atividades das empresas de açúcar e álcool. Foram gerados 6.388 empregos, uma alta de 2,50% com relação ao mês anterior. Foi a maior taxa de crescimento do País e o melhor resultado do Nordeste. No acumulado do ano, houve acréscimo de 6.884 postos de trabalho celetistas (+2,70%) e nos últimos 12 meses verificou-se aumento de 1,73% no nível de empregos ou 4.438 postos de trabalho”. Fonte: Secretária Estadual do Trabalho. Assim o governo aumenta o índice de desenvolvimento sustentável, elevando o prestígio do estado em rede nacional muita coisa ainda precisa se modificada, mas estamos indo no caminho certo, mas pra isso precisa muita coisa ser reorganizada, e principalmente as política sociais precisam se modificarem para novas perspectivas de erradicação da pobreza

Referências


Política social preventiva: desafios para o Brasil / Dieter W. Benecke, Renato Nascimento (orgs.). Rio de Janeiro


http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/menu_superior/relatorios_e_estatisticas/relatorios-e-estatisticas


http://www.trabalho.al.gov.br/noticias/alagoas-tem-maior-taxa-de-emprego-no-brasil